segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Começo

E aí vai, pra começar, um textinho que escrevi num momento não tão bom da minha vida. Como é muito solto,talvez eu faça uma continuação, quem sabe?


E aqueles breves momentos de sádica alegria enchiam sua cabeça. As idéias voavam, corriam,passavam, sem serem realmente saboreadas pela mente turvada pela avalanche de acontecimentos que presenciara. Aqui se faz, aqui se paga. Mas não estava ela antes pagando? O que acontecia naquele momento, no qual os papéis se invertiam, e aquele que antes se torturava com a consciência dos fatos inegáveis, agora ria o riso breve e de arestas loucas do vingativo. Assistia ao desespero do companheiro inicialmente com a preocupação ingênua que parecia nunca querer morrer. Mas esta gradativamente sumia de suas divagações, mais errantes que os ventos selvagens e frescos de uma tempestade, e dava lugar à uma nova forma de entendimento, uma nova compreensão da situação." Seria este mais um dos insólitos falsos momentos de entendimento? "Pensamento este que afligia a mulher. Talvez, mas descobriria só depois de muitas voltas realizadas pelos (não tão pontuais) ponteiros do relógio sobre a cômoda.

Compreendia, mas o tempo levava consigo a explosão de sensações que invadiu o corpo da mulher naqueles anteriores momentos. Não mais controlada pelos mais primitivos sentimentos de vingança e raiva fugidos dos cantos escuros e isolados de uma alma, voltava gradativamente à (in)sanidade que vivia já haviam semanas,meses e talvez anos. Do modo como veio, foi arrancado dela o direito da vitória; que talvez não fosse de tão direito seu assim. E aquele turbilhão causado por palavras mal escolhidas no momento mais inapropriado, se dissipava, esvaía-se pelo vão da compreensão dos outros seres. Escorria e fugia dos olhos e do coração da ignóbil criatura que observava sem nada poder fazer realmente. E ela sentia aquela sensação tão conhecida da perda, simultânea à imobilidade, pulsar febrilmente em suas veias, enquanto não podia fazer nada além de permanecer sentada com seus pensamentos tão sádicos quanto aquele momento, que voltavam a colocá-la debaixo da torneira gotejante. E lá estava ela, de volta ao seu devido lugar debaixo das gotas sussurrantes e indiferentes ao ser cuja sanidade destruíam pouco a pouco, sem querer. Lá estava ela, amarrada novamente. Não mais me moverei até a próxima virada da Lua do pagamento. Até lá, pago. Depois, durmo o sono que há de me libertar dos laços que cegam, e dos caprichos de uma consciência gotejante.

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